A minha história de sujeito leitor está diretamente ligada à minha própria história. Nasci na zona rural do município de Buriti dos Lopes, onde morei até os 12 anos. Fui para a escola aos sete anos de idade, onde fui alfabetizada com a antiga carta de ABC e depois com a utilização de cartilhas. A minha primeira professora foi uma prima distante de minha mãe. A escola funcionava na própria casa dela e eram turmas multisseriadas. Depois tive outra professora que também trabalhava com turmas multisseriadas. A minha mãe me influenciou não só no gosto pela leitura, mas também na escolha da própria profissão. Minha mãe, apesar de sua formação limitada, foi alfabetizadora do antigo MOBRAL, onde sempre procurava ler o que encontrava pela frente.
Fomos criados, eu e mais dois irmãos praticamente pela minha avó, pois meus pais se separaram quando eu tinha 11 meses de vida e quando eu tinha 5 anos, minha mãe precisou nos deixar para tentar a sorte aqui em Parnaíba.
Quando fui alfabetizada e comecei a ler, passei a perceber a beleza que havia dentro dos livros, passei ser hipnotizada por eles. Naquele tempo não havia e nem tínhamos acesso a eles. Nossas leituras se limitavam aos livros didáticos. Mas nunca esqueci os meus, que eram “O Novo Nordeste”, para todas as disciplinas, dos autores Cecília Ávila Pessoa e Paulo Ávila Pessoa. Os textos eram bem interessantes, pois eram voltados para os problemas da zona rural, mas também traziam trechos de textos de grandes nomes da literatura brasileira, como Machado de Assis e Aluísio de Azevedo.
Morávamos perto de uma irmã de minha avó, que também gostava de ler e tinha várias revistas de fotonovelas; acabei sendo seduzida por elas. Lia e relia as ditas fotonovelas várias vezes. Depois vieram os folhetos mais famosos do Nordeste, os folhetos em cordel. Lembro que eu deveria ter entre oito ou nove anos, mas já tinha uma boa velocidade na leitura, pois devorava muitos em um só dia. Minha avó comprava e minha tia também e quando terminávamos, trocávamos e aquilo tudo era uma grande diversão.
Aos doze anos mudei-me para Parnaíba. Minha mãe com muito sacrifício conseguiu comprar uma casa e viemos todos. Aqui repeti a 4ª série, pois minha mãe achava que eu não acompanharia a 5ª, tendo em vista que vinha da zona rural. Senti-me velha, cursando a 4ª série com 12 anos. Achei os livros horríveis, os textos mais horríveis ainda, pois eram tão sem graça e sem sentido para a minha realidade. No ano seguinte entrei no ginásio e era tudo muito novo, vários professores e várias disciplinas que precisava dar conta, mas mesmo assim gostei desta nova etapa.
Ainda no ginásio, por influencia de minha irmã, acabei lendo outro tipo de literatura: as Sabrinas, Júlias, Biancas e etc. Nossa! Aquilo tudo era muito gostoso, às vezes eu ficava até as duas horas da manhã lendo, esquecia do tempo. Neste período li também o livro que era febre entre os adolescentes: “Eu, Christiane F. – 13 anos, drogada e prostituída”, em que contava a história de uma adolescente que acaba entrando no mundo das drogas. Achei o livro muito forte e a descrição da vida da adolescente muito pesada.
Quando ingressei no Ensino Médio já não tinha tanto tempo para ler, pois a escola tinha um ritmo muito pesado e quase não sobrava tempo para a leitura prazerosa, já que era preparatória para o vestibular e precisava dar conta de uma gama muito grande de leitura dos livros didáticos. Mas em alguns intervalos lia um pouco de literatura. Li o livro da Maria José Dupré “Éramos seis”, uma história bem marcante, que posteriormente virou novela. Li também nesta época a grande obra de Stendall, “O Vermelho e o Negro”, livro baseado em fatos reais, em que faz uma crítica contundente e romanceada da sociedade francesa, no período da Restauração.
No final da década de 80 fiz vestibular pela primeira vez e consegui ser aprovada. Fiz para Pedagogia. Inicialmente, não gostava muito do curso, me sentia meio perdida, tendo em vista que havia saído de um Ensino Médio em que era apensa mais um rosto na multidão e eu era extremamente tímida; na universidade teria que me expor, ir para a frente. Havia também as dificuldades estruturais, já que a maior parte da turma havia cursado Escola Normal e já estava no mercado de trabalho atuando como professoras. Foi uma etapa muito difícil, tive que aprender muita coisa, principalmente a lidar com as minhas emoções e limitações. Aceitei o desafio e passei a gostar do curso e a fazer mais e mais leituras, muitas voltadas para a educação. Alguns autores eu nunca tinha ouvido falar, mas fui em frente e conclui o Ensino Superior.
Após o término do curso, ingressei no mercado de trabalho, trabalhando com crianças de 3ª e 4ª séries. Trabalhava em uma instituição que tinha uma biblioteca muito boa. Então me deleitei com as leituras prazerosas. Li muita literatura inglesa, americana, Biografias e romances. Li duas biografias que nunca esqueci: a do Aristóteles Onássis e a do Nelson Rodrigues; “O anjo Pornográfico”, maravilhosas.
Depois de 8 anos de trabalho nesta instituição, sai e fui trabalhar na escola Normal Francisco Correia, onde fui fazer leituras bem específicas do curso. Foi uma experiência gratificante, pois fui trabalhar as várias teorias do curso, na prática da formação de professores. No ano de 2002 enfrentei um grande desafio que foi trabalhar com o Ensino Superior, onde fiquei meio assustada, achava que não daria conta, mas mergulhei nos livros e aceitei o desafio. Foi muito enriquecedor, onde até hoje continuo trabalhando com este nível de ensino.
Em 2004 fiz concurso para professor da rede municipal e passei. Comecei a trabalhar com crianças novamente, mas em 2006 surgiu a oportunidade para trabalhar com formação de professor, onde tive que fazer uma formação inicial na área de Língua Portuguesa, que foi a porta de entrada para mais e mais leituras. Foi uma das experiências mais maravilhosas, pois todas as leituras feitas vieram somar com as experiências vividas. No mesmo ano senti necessidade de ter uma formação mais sedimentada, pois os conceitos trabalhados na formação, eram um pouco distantes da minha graduação, então resolvi estudar e fazer vestibular para Letras.
Não fiz cursinho; estudei em casa, nos horários que dava, pois trabalhava os três turnos. Fiz vestibular no final do ano e fiquei imensamente feliz com a aprovação. Com o ingresso no curso é que comecei a consolidar muita coisa que havia visto na formação feita no ano anterior. Fico contente a cada vez que percebo que o que estou vendo na graduação, muita coisa aprendi na formação. Mais feliz ainda porque estou tendo a oportunidade de aliar a teoria à prática, quer dizer muito do que se aprende na graduação, posso transpor para os professores que acompanho o trabalho.
Estou conseguindo formar uma boa biblioteca nas duas áreas, tanto na Pedagogia, quanto na área de Letras, pois sou fixada em livros. Gosto de ler um pouco de tudo. No último semestre li pouco pela questão do tempo. Li o livro “Diário da Zlata”, que é o diário da menina bósnia, onde conta os momentos difíceis que passou durante a guerra; li também “O caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini”, onde achei o livro bem interessante; “Filhos brilhantes, alunos fascinantes”; “O vendedor de Sonhos”; “Treinando a emoção para ser feliz”, ambos de Augusto Cury; “O liveiro de Cabul”, da Asne Seierstad, que conta a história do livreiro de Cabul, Sultan. Atualmente estou tentando ler “Saberes docentes e formação profissional”, do Maurice Tardif
E só posso dizer que leitura é fundamental. Agradeço todos os dias a Deus pelas oportunidades que tive na vida.